Volta sempre às mesmas músicas. Como se fossem vitais, a dado momento, para poder continuar. A música exerce um poder imenso em si. A janela está meio aberta para deixar sair o fumo do cigarro, para se conseguir respirar. As plantas estão regadas, os livros arrumados, as almofadas no sítio. Mas não aguenta mais o barulho, um barulho que penetra os seus dias como um raio fulminante e desvia a atenção do que sente ser essencial. Um barulho que constrange o pensamento, que tira o fôlego e enrouquece a voz.
Levanta-se. Vai a janela. Respira o ar frio da rua. Olha para a rua vazia. Lá ao fundo o sinal de trânsito emite o som positivo de passagem para os peões. Volta a sentar-se, olha à volta. O chão limpo, o tapete varrido, sente o cheiro químico do detergente que limpou o chão. Tira as meias, sente necessidade de sentir o chão. Sente frio mas deixa-se estar. Tenta decidir algo que não sabe o que é. O chão está limpo, as almofadas no sítio, os livros arrumados, a janela meio aberta para deixar sair o fumo do cigarro, é necessário respirar, o sinal lá fora emite o som positivo de passagem aos peões. O chão está frio, sente-o. Deixa-se estar.
As luzes estão apagadas.
Deixa-se estar.
{apontamento 28.}
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