segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Int. 

Noite. Quarto. Calor tórrido. 

Ele está sentado. Tudo começa aqui. Está uma música a tocar. Tudo poderia começar aqui. Tudo poderia começar na música e na imobilidade dele, sentado naquela cadeira a olhar a noite quente pela janela. Tudo poderia começar. Tudo já começou nas gotas de suor que escorrem pelo seu corpo enquanto se mantém imóvel na cadeira. Tudo já começou no ar irrespirável desta noite quente. Tudo poderia começar na música, parece-lhe ser uma música triste, parece-lhe apenas, porque apesar da tristeza que as ondas sonoras lhe fazem sentir, esta música, que poderia começar tudo, dá-lhe algum fôlego na imobilidade. As costas estão suadas, todo o corpo sua. Todo o seu corpo está imóvel. Mas olhando bem tudo realmente poderia começar no subtil movimento do seu dedo. Começou outra música. Outra música ainda mais triste que a anterior. Ele poderia levantar-se e mudar, escolher outra música. Mas é, neste momento a que lhe faz sentido, apesar da tristeza. A tristeza também faz sentido. Não há nada que ele queira neste momento a não ser estar ali, sentado naquela cadeira, a olhar, apenas a olhar. 

Pausa///

Ele está sentado e tudo já começou, apesar da música, apesar do movimento quase invisível do dedo que dobrou ligeiramente, apesar dos pêlos dos braços que se manifestaram quando se arrepiou naquele momento específico da música, aquele momento específico...  O suor escorre, a música continua, a noite não trouxe a aragem fresca necessária, ele mantém-se sentado. Ele poderia tantas coisas. Começa outra música, esta poderá ter o potencial de o fazer chorar. Ele chora. É apenas um piano a tocar. Ele chora. São apenas sons, notas musicais que juntas o fazem chorar. Ele chora. Ele chora apenas. Ele chora no movimento continuo da respiração. Ele chora lágrimas que escorrem de forma continua, não faz nenhum som, vê-se apenas as lagrimas a cair no interior de um quarto de uma noite de verão de calor tórrido. 

A música parou. Não se dá início a outra. Silêncio é o único som audível neste momento. 

Ele pensa: O tempo...

{apontamento 37.}       

segunda-feira, 10 de julho de 2023

int. 

Verão. Tarde. Final de tarde. Calor.

Nada.

Sente uma pequena brisa no corpo.

Arrepia-se.

Está a olhar em frente. A olhar em frente para a janela que mostra a rua. Mas de onde está não consegue ver nada. Ouve duas pessoas a rir. Riem lá fora e as vozes ecoam. 

Continua a olhar em frente. 

Vazio. 

Ouve-se o som alto de um telemóvel. Inclina a cabeça na direção do som. Mexe ligeiramente os dedos das mãos.

Levanta-se. 

Percebe a hipótese de recomeçar. 

Avança. 

Corta para.

{apontamento 36.}  



Este texto começa na falha. Deveria começar na falha. Talvez não devesse sequer começar. Mas já começou e irá arrastar-se até não ter mais p...