terça-feira, 19 de dezembro de 2017

À espera do silêncio para começar. Ainda existe um barulho lá ao fundo, não é ruidoso, mas é suficiente para marcar presença. À espera para começar. O que é que aconteceu primeiro? À espera de expelir todo o fumo do cigarro para começar. Primeiro aconteceu algo. Mas começar só depois do silêncio. Primeiro o silêncio. Primeiro tem que começar o silêncio, e depois começar. Instala-se agora a presença que fazia o ruído ao longe. Está aqui. O silêncio longe. A figura parada, de costas, virada para a parede branca com alguns quadros pendurados, instala-se depois de ouvir o som do telemóvel, vê o telemóvel, vê a mensagem, de costas, virada para a parede, diz uma única palavra, a palavra que diz é um objecto, um objecto gigante que nos permite viajar, não diz mais nada, avança para dentro, continua o ruído, acende a máquina de café, deita a borra usada para o lixo, enche novamente, tira um novo café, não diz nada, faz tudo em silêncio, apenas com um ruído lá ao fundo, mas suficientemente presente para ser, para penetrar outra existência. Existe apenas, entre estas duas existências, o ruído provocado pelas ondas vibratórias quando chocam contra a matéria. O som de passos dá entender que a figura que à pouco estava parada em frente à parede branca se desloca para um outro sítio mais longe, mas não longe o suficiente para que o ruído provocado pelas suas ondas vibratórias não deixe ainda assim de penetrar esta outra existência. 
Subitamente a porta que dá acesso à rua abriu e voltou-se a fechar, no que pareceu ser um movimento contínuo.
Começar. 

{apontamento 14.}      

Este texto começa na falha. Deveria começar na falha. Talvez não devesse sequer começar. Mas já começou e irá arrastar-se até não ter mais p...