Correu para chegar a tempo ao sítio onde tinha um horário marcado, um compromisso, uma função que necessitava da sua presença, não por ser ele especificamente, apenas por agora ter sido ele a assumir esse compromisso.
Virou a esquina para subir a rua íngreme.
Parou.
Olhou até onde o seu olhar conseguia ver. Um mar de gente. Uma massa que lhe parecia compacta, impossível de trespassar. Respirou fundo. Avançou devagar, aos poucos os espaços que poderia ocupar com o seu corpo foram surgindo. Avançava. Ia-se tornando também parte daquela massa. Quase a chegar ao topo um homem falou mais alto do que toda a gente. Ele olhou e continuou a andar. O homem continuava a falar, aquilo que dizia ainda não lhe era muito perceptível, olhou outra vez, e desta vez algo naquele corpo o fez parar. Não conseguia deixar de ver e ouvir:
"porque só há uma coisa entre nós e o outro, entre A e B. E não é uma coisa estanque, manifesta-se por entre as zonas que não se vêm, mas que se sentem no nosso interior..."
O homem segurava uma bíblia nas mãos. A massa continuava a movimentar-se com uma fluidez ondulante. E ele deixou-se ficar parado a sentir-se imperceptível durante mais um bocado.
Passado um bocado teve que avançar, já estava atrasado.
Correu.
{Apontamento 7.}
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