quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

05/01/2017

São 1:53. Escrevo. Escrevo sem um objectivo concreto, confesso. Nos meus ouvidos ecoa a voz da Pj Harvey. Um amor maior. Não sei explicar, nem quero, mas existe aqui um entendimento qualquer. Hoje depois do ensaio, decidi ir a pé para casa, a menos de meio do caminho, no Martim Moniz, o meu passo rápido foi interrompido pelo som de uma voz, que pareceu chamar-me. Parei, olhei à volta e vi um senhor meio perdido, que a sorrir continuava a chamar, mas sem perceber se alguém teria parado. Aproximei-me dele. Perguntou-me onde estava a rampa, percebi que era cego, olhei à volta à procura de alguma rampa por perto, quando a encontrei perguntei-lhe se queria ajuda para subir, disse-me que sim. Ajudei-o. Quando me ia embora, travou-me o passo novamente e conversou comigo, para além de me agradecer. Apercebeu-se da minha ansiedade em ir embora e pediu desculpa porque sabia que eu estava acompanhado, eu disse-lhe que não estava com ninguém apenas tinha alguém ao telefone à espera, disse-me que sabia que eu estava acompanhado e que essa companhia não teria que ser física e que o soube pelo meu tom de voz. Ofereceu-me um copo, que eu não aceitei, e falamos mais um bocado sobre a guerra, sobre os nomes, sobre ter sido para-quedista na guerra e de como na guerra os para-quedistas são mortos antes de chegar ao chão, e que essa é uma regra que se viola, pois deveriam deixá-los chegar pelo menos ao chão, mas como ele me disse, na guerra existem regras, e todas elas são violadas, como em todo o lado. Aconselhou-me a nunca deixar que violem as minhas, que ele, sempre que lhe faziam isso controlava-se para não puxar da pistola. E por isso, disse-me ele, puxa da pistola. Nunca deixes de te chamar Tiago. Ri-me nervosamente, apesar de fascinado e segui o meu caminho.

2017:
Donald Trup é presidente dos Estados Unidos.
No Médio Oriente assistimos a um massacre.
A Rússia avança a todo gás para engolir a Europa.
A Europa encolhe-se cada vez mais mas não perde a arrogância.
Em Portugal a educação está morta. 
São agora 02:36 a Pj continua e eu continuo sem saber porque é que escrevo este texto, não tem que haver uma razão, ou ela existirá mesmo que eu não a veja neste preciso momento. Não tem princípio, nem meio nem fim. Terá algum texto um fim? 2017 e eu estou neste momento a ler o Plexus do Henry Miller, terá esse texto um fim ou um começo? Este não tem, nem uma coisa nem outra. São 2:39 agora e apetece-me beber um café, mas não posso, o café excita-me demasiado, ficaria acordado a noite toda. "Lick my legs I'm on fire Lick my legs of desire", diz a Pj.   

Este texto começa na falha. Deveria começar na falha. Talvez não devesse sequer começar. Mas já começou e irá arrastar-se até não ter mais p...